Lisboa | LNEC | 4 de dezembro de 2019







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RESUMOS

O saber e a ciência na conservação dos materiais metálicos – Materiais ferrosos
Maria João Correia – Química, LNEC

Resumo
A utilização de materiais ferrosos no setor da construção metálica, especialmente em funções estruturais, mas também em elementos decorativos, registou um progresso determinado pela evolução dos processos siderúrgicos. O estado do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico originaram, ao longo dos tempos, uma grande diversidade das características dos materiais, especialmente daqueles que compõem as estruturas antigas.
Atualmente a aplicação destes materiais no setor da construção, em particular em elementos estruturais, tem exigências várias incluindo confiabilidade, segurança, eficiência, robustez e durabilidade, ou seja, a sua utilização deverá ser baseada num sólido conhecimento, das suas características e respetivo desempenho. A melhoria de conhecimento que advém da caracterização dos materiais ferrosos, contextualizada histórica, geográfica e funcionalmente, permitirá também fundamentar a definição de requisitos e de especificações necessários à otimização da gestão da conservação, reparação ou reabilitação destas estruturas. Neste contexto, são especialmente relevantes a identificação e caracterização do tipo de materiais originais, a avaliação do seu estado de conservação, a análise da adequabilidade dos novos materiais às funções previstas e, em particular, o estudo da sua compatibilidade com os materiais originais.
Muito frequentemente é necessário utilizar uma abordagem forense para caracterizar o material original, adaptando os métodos de ensaio e a ciência à especificidade de cada objeto de estudo, que à partida se desconhece, assistindo-se normalmente a um processo de validação e racionalização de saberes que contribuem também para o progresso tanto dos processos industriais como das práticas construtivas.


O saber e a ciência na conservação dos materiais metálicos - Ligas de cobre
Isabel Rute Fontinha – Engenheira Química, LNEC

Resumo
No âmbito dos materiais de construção empregues no património histórico e arquitetónico, o cobre e suas ligas encontram-se tradicionalmente aplicados com fins decorativos: o cobre (chapa) no revestimento de coberturas/fachadas de edifícios, e as ligas de cobre (bronzes, latões) em elementos decorativos de edifícios e de espaços públicos, nomeadamente, painéis e esculturas (mais comum). Neste contexto, podem estar associados a objetos de património cultural que representam aspetos da história e da cultura nacionais ou locais, preservando a memória de factos e figuras com que as comunidades se identificam, servindo de ponte entre o passado e o presente, que são importantes conservar de forma ativa.
Para o diagnóstico do estado de conservação deste tipo de componentes metálicos e o apoio à decisão sobre a estratégia de conservação, é necessário não só reunir dados científicos sobre os materiais existentes e as suas propriedades, como também obter dados históricos e conhecimentos sobre as técnicas de execução. Nesta apresentação procura-se dar uma panorâmica geral sobre como se interligam os vários tipos de saberes para uma adequada avaliação dos processos de degradação, seleção dos produtos de reparação/proteção e tecnologias de intervenção mais compatíveis na conservação de componentes em ligas de cobre.


Construir e decorar: a utilização das rochas no património e os desafios da sua preservação
Dória Costa – Geóloga, LNEC

Resumo
A utilização da pedra como material de construção é, assumidamente, um marco de desenvolvimento da espécie humana no seu processo evolutivo do saber e aperfeiçoamento técnico, mas também um objeto de culto e ligação com a imortalidade. O património que chegou até nós desses tempos mais primitivos está ligado a construções fúnebres de que o país tem bons exemplos construídos, não apenas em granito, mas também em calcário. Aos olhos dos nossos dias serão blocos trabalhados pela natureza, cuidadosa e simbolicamente posicionados, com orientações determinadas que os arqueólogos tentam entender e explicar. Do ponto de vista do material, aproveitava-se o que havia no espaço em redor, mais ou menos vizinho mas também aí é possível descobrir um carácter intencional.
Dando um grande salto no tempo, na verdade foi quase sempre a relação com entidades divinas ou a questão da imortalidade que motivou a construção de locais de culto, inicialmente simples, mas progressivamente mais complexos, também eles decorados com elementos esculpidos ou trabalhados em pedra, por ser nobre e idealmente mais resistente e capaz de perdurar no tempo.
Ainda pensando em pedra e na sua utilização, goste-se ou não, a decoração do período românico das nossas igrejas, a decoração utilizada do nosso gótico coloca a questão, muito pertinente, da forma como podemos preservar este património que os nossos ancestrais nos legaram. E, por vários motivos, a tarefa não é, não tem sido, (nada) fácil…


Fabrico Tradicional de Cal no Concelho de Cantanhede – perspetivas
Carlos Gregório, Técnico Superior, Museu da Pedra do Município de Cantanhede

Resumo
Em breve estará disponível


Inspeção, Diagnóstico e Reabilitação de estruturas antigas de madeira
Tiago Ilharco – Engenheiro Civil, NCREP e APRUPP

Resumo
Pretende-se com a presente comunicação salientar o papel fundamental das ações de inspeção e diagnóstico nos projetos de reabilitação estrutural de património edificado. Apenas um conhecimento completo das características da estrutura existente e do seu estado de conservação permitirá a realização de projetos de reabilitação estrutural devidamente sustentados e adaptados às condições existentes, dirigidos para a solução dos reais problemas da estrutura.
A inclusão das ações de inspeção e diagnóstico, que envolvem normalmente a utilização de equipamentos de ensaio não destrutivo, nomeadamente resistência à perfuração, sismógrafos, etc., dá origem a uma metodologia de reabilitação integrada, sustentada num diagnóstico baseado no conhecimento da estrutura, abordagem seguida nas intervenções realizadas pelo NCREP – Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda.
A experiência do NCREP tem mostrado que intervenções de reabilitação que seguem esta abordagem, permitindo a preservação dos elementos estruturais, apresentam um menor custo e um maior potencial de valorização das construções (histórico, cultural, material, etc.), envolvendo uma diminuição de resíduos de demolição e uma reutilização efetiva dos materiais existentes. Englobando reforços estruturais pontuais, dirigidos e otimizados, esta abordagem permite, em zonas em que os acessos são normalmente difíceis e as áreas livres são escassas, intervenções sem necessidade de instalação de grandes estaleiros ou gruas.
A importância desta abordagem será realçada através da análise de alguns casos práticos de ações de inspeção e diagnóstico e de intervenção de reabilitação/reforço de estruturas antigas de madeira, que permitiram minimizar o impacto sobre as construções, otimizando soluções construtivas e o custo final das intervenções, num compromisso entre funcionalidade, segurança e salvaguarda do património.


A cerâmica e o contexto local
Ana Velosa – Engenheira Civil, Universidade de Aveiro

Resumo
No âmbito do projeto DB-HERITAGE (Base de dados de materiais de construção com interesse histórico e patrimonial, PTDC/EPH-PAT/4684/2014, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia), foi efetuado um trabalho de catalogação de diversos elementos cerâmicos, compreendendo telhas, tijolos e outros elementos.
Neste contexto, para além da recolha, análise e registo de diversas amostras dispersas pelo território nacional, foi efetuada uma contextualização histórica dos centros produtivos, verificando-se o aparecimento de “clusters” de produção cerâmica em certas zonas do país. Embora a produção cerâmica tenha sofrido oscilações significativas ao longo das épocas, com um auge produtivo no século XIX, verifica-se uma interligação da localização dos centros de produção à existência de matéria-prima, embora existam exceções. Também existe uma variação de produtos que não é alheia à localização no território nacional. Um exemplo de produção e uso de materiais cerâmicos na construção são as paredes “pão de açúcar” de Aveiro.
Nesta comunicação será apresentado um resumo histórico da produção cerâmica ao longo dos tempos com ênfase na ligação aos contextos locais e serão dados exemplos inseridos no projeto DB-HERITAGE.


Argamassas tradicionais de cal - A influência do fator humano
Maria do Rosário Veiga – Engenheira Civil, LNEC

Resumo
As argamassas de cal fazem parte integrante de muito do Património construído Europeu. São conhecidas argamassas de cal com mais de 7000 anos em boas condições de conservação em algumas zonas do mundo, e, mesmo em Portugal, é fácil encontrar argamassas de cal com mais de 2000 anos, coesas, resistentes e perfeitamente funcionais. No entanto, trata-se de um material com resistências mecânicas moderadas e que paradoxalmente é visto atualmente como “de reduzida durabilidade”.
Que segredos favoreciam o bom desempenho das argamassas antigas de cal? Porque razão hoje, com meios tecnologicamente bem mais sofisticados, dificilmente conseguimos reproduzir as características que lhes davam tanta longevidade?
Na verdade, a durabilidade e bom comportamento das argamassas de cal depende em grande parte da sua microestrutura e das condições ambientais e climáticas no período inicial de aplicação. Por sua vez, estas variáveis estão muito ligadas ao fator humano: o modo como a cal era obtida, calcinada, moída e armazenada; a preparação da argamassa e a sua aplicação; os cuidados de cura e de proteção inicial. O saber de quem executava cada uma destas tarefas, o cuidado posto nelas e a importância que dava a esses trabalhos, tinham uma influência direta na distribuição dos poros e na ligação entre partículas e, portanto, também nas características da argamassa. O tempo que era dedicado a cada uma das tarefas e aos intervalos de espera para maturação da cal, para aperto da massa e para intervalo entre aplicação de camadas, era, também, um fator decisivo.
Nesta apresentação serão abordados aspetos relacionados com o saber de quem fazia e aplicava a cal e as argamassas e com o tempo dos trabalhos da cal e procurar-se-á estabelecer a ligação entre o bom comportamento desse material milenar e os conhecimentos empíricos construídos ao longo do tempo e passados de geração em geração.


Contributo das ciências exatas para o conhecimento das técnicas e dos materiais – exemplos de revestimentos históricos
António Santos Silva – Químico, LNEC

Resumo
As ciências exatas, como o próprio nome indicia, visam dar respostas a questões básicas como: de que é feito aquele objeto? (quais os materiais); como foi feito? (técnicas e tecnologias); quando e onde foi feito? (datação e proveniência); autoria?; estado de conservação? (diagnóstico); porque se degradou? (mecanismos de degradação); como conservar/reabilitar? (protocolos de conservação/reabilitação).
Neste enquadramento, o estudo de materiais de construção antigos tem ganho um reconhecimento crescente, pois por um lado possibilita obter informação que permite dar respostas adequadas às questões levantadas, e por outro permite potenciar a melhoria do desempenho de novos materiais. Estes dois objetivos diferentes, mas que se interligam, necessitam de saberes acerca da história e constituição dos materiais, mas também dos saberes sobre as potencialidades e limitações dos métodos de análise físico-químicos de caraterização de materiais. Nesta comunicação descrevem-se exemplos de casos de estudo de caraterização de revestimentos históricos em Portugal, que evidenciam a importância das ciências extas quer no estudo de materiais, e o seu contributo para a história desses monumentos e do património histórico e arquitetónico em geral.


Relembrar uma herança cultural: pigmentos terra e indústrias de terras coradas em Portugal
(sécs. XVIII ao XX)

Milene Gil – Conservadora-Restauradora, Laboratório HERCULES da Universidade de Évora

Resumo
Atualmente muito pouco se sabe sobre a origem de terras coradas em Portugal para uso das Artes e de pinturas de superfícies arquitetónicas. Esta temática parece ter passado (e assim permanece) desapercebida à maioria da bibliografia de arte especializada nacional e internacional. Portugal é geologicamente rico em terras coradas que podem ser utilizadas para a produção de ocres e outros pigmentos terra. A sua localização, extração e produção, encontram-se registadas em documentos históricos e técnicos que remontam pelo menos ao século XVIII, de que sobressaem os relatórios feitos por naturalistas ligados à Academia das Ciências de Lisboa e os catálogos de Exposições Fabris Universais dos finais do final do século XIX e início do XX. Já do século XX, chegam os relatos dos processos de extração de duas pedreiras de ocres e almagres e da produção de pigmentos terra, através do testemunho de uma proprietária de indústrias artesanais de terras “corantes” nacionais. Com esta comunicação pretende-se dar a conhecer uma herança nacional, pouco conhecida da maioria dos especialistas de Arte, Conservação e Restauro, e em que medida as inovações industriais provocaram a rotura com a mesma.


Calçada artística portuguesa: a imaterialidade da materialidade
António Miranda – Historiador, Associação da Calçada Portuguesa / CML

Resumo
Um longo caminho foi percorrido até surgir a técnica da calçada artística portuguesa como hoje a entendemos. Este tipo de calçada deslumbra enquanto tapete que encena o espaço público à semelhança do espaço doméstico. Todavia, é o engenho do artífice que lhe dá corpo e alma. Nesta perspetiva, o saber fazer ganha a primazia, não só do mestre-calceteiro mas dos demais calceteiros envolvidos, pois para ser bem executada a calçada artística não depende exclusivamente de um artesão mas de um trabalho afinado em equipa. Mal remunerada a profissão, esta arte, cuja génese remonta à Antiguidade, encontra-se em vias de extinção, pelo que se torna urgente o seu reconhecimento e valorização, tanto a nível nacional como internacional, também enquanto marca identitária da cultura e do povo que a criou.


Saberes, fazeres e executores numa fábrica de azulejo
Sílvia Pereira – Química, LNEC e Laboratório Hércules-UE
Marluci Menezes – Antropóloga, LNEC

Resumo
A Fábrica Cerâmica Constância foi uma importante unidade de produção artística que, entre 1836 e finais de 2001, operou em cerâmica decorativa utilitária e em azulejaria. Com muita experiência e conhecimento na arte cerâmica, nesta fábrica trabalharam em esforço e partilha de conhecimento um diverso conjunto de artistas/ artesões/ ladrilhadores/ operários/ vendedores/ gestores. Como resultado deste esforço conjunto foi obtido um importante portfólio de obras azulejares que, hoje, contribuem para o património azulejar e a arte urbana em Portugal. Dentro dos quais se destacam: o muro da Av. Calouste Gulbenkian (João Abel Manta, 1970-1972), a torre da Fundação Cupertino de Miranda (Charters de Almeida, 1968) e o painel do pavilhão dos oceanos no Oceanário (Ivan Chermayeff, 1997). A apresentação faz uma revisita à Fábrica Cerâmica Constância. O objetivo é partilhar algumas memórias socio-técnicas e artísticas conforme recolhidas a partir de entrevistas a antigos trabalhadores da Fábrica e ao seu gerente. Em específico, revelam-se determinados materiais, lógicas de trabalho e organização, sobretudo aqueles mais ligados ao azulejo.


A cultura e as casas Caramelas a Sul do Tejo
Teresa Sampaio – Antropóloga, Museu de Palmela

Resumo
Pinhal Novo é uma freguesia do concelho de Palmela, cuja origem está alicerçada nos movimentos migratórios internos de Portugal do final do século XIX até meados do século XX. Esta história recente permite-nos, com alguma precisão, detalhar o seu percurso do ponto de vista da identidade coletiva, e até os protagonistas que foram, de forma consciente ou não, construindo os caboucos da sua atual morfologia cultural e social.
As casas de terra que povoam a paisagem rural envolvente são o testemunho desta dicotomia que se instalou em poucas décadas, entre um rural de memórias persistentemente construídas e o fluir urbano. Trata-se de construções de adobe, na sua maioria, hoje, em estado de ruína, que foram edificadas a partir da matéria que o local tinha disponível e que permitiram a fixação de dezenas de famílias no território. O Museu, com o apoio do arquiteto Tiago Farinha (enquanto Amigo do Museu), fez o levantamento destas construções, que extravasam os limites do concelho e povoam uma vasta área a sul do tejo.


A terra e quem a trabalha
Paulina Faria – Engenheira Civil, FCT-UNL

Resumo
A terra foi utilizada desde há milénios como material de construção, por estar disponível e ser fácil de utilizar. Existem vestígios pré-históricos da sua utilização por exemplo como “barro de cabanas”. Ao longo do tempo, foi utilizada para diferentes aplicações e através de diferentes tecnologias construtivas na execução de: paredes monolíticas em taipa ou terra empilhada; de paredes de alvenaria de adobe ou outros tipos de blocos; argamassas no preenchimento de tabiques, pisos, coberturas e rebocos, e mesmo terra a granel para preenchimento de elementos vazados. Muitas das tecnologias construtivas estão geralmente associadas aos recursos da região, nomeadamente ao tipo de terra e água. Mas estão também associadas aos conhecimentos das populações de uma região, às suas viagens e migrações.
Verifica-se que, muitas vezes, as tecnologias construtivas estão efetivamente associadas a essas migrações. A introdução da taipa em Portugal é um exemplo dessa situação. Tratando-se de uma técnica já com muitos séculos de utilização no Norte de África, terá sido trazida para Portugal durante o período de ocupação muçulmana, tendo sido aí empregue na construção de estruturas defensivas e posteriormente no mesmo tipo de construções em diferentes regiões do mundo durante a época dos Descobrimentos. Outro exemplo, mais recente (século XX), é a utilização de alvenaria de adobe para a construção de habitação e apoios agrícolas pelas famílias que migraram do Centro/Norte de Portugal, onde era corrente a utilização desta tipologia construtiva, para a região de Palmela. No entanto, as técnicas eram adaptadas de acordo com as necessidades (a que atualmente designaríamos requisitos) e as disponibilidades (os recursos) de forma a otimizar-se a eficiência. Antigamente, a disseminação da técnica fazia-se apenas por quem trabalhava a terra ou quem dela necessitava; na atualidade verifica-se que até ocorre ao nível dos projetistas de arquitetura. Verifica-se também que, por exemplo em Portugal, nas últimas décadas o interesse por construções com terra tem crescido com a emigração de países do Norte da Europa.
Assim, apresenta-se uma síntese das tecnologias construtivas com terra mais correntes em Portugal e procura-se associar essas tecnologias aos recursos regionais e às migrações, nacionais e internacionais que, desde há muitos séculos e até à atualidade, têm ocorrido em Portugal e a partir deste país.


Coleta, registo e arquivo do saber-fazer tradicional: conquistas e desafios
Marluci Menezes – Antropóloga, LNEC

Resumo
A conservação dos materiais históricos é um dos aspetos a relevar no âmbito da preservação da herança cultural com a consequente valorização dos locais em que se inserem. O que ressalta a importância do estudo das questões relacionadas com o saber-fazer técnico tradicional, considerando a importância da sua salvaguarda como património imaterial (cf. Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, UNESCO, 2003). Paralelamente, estas questões são intrinsecamente importantes para a conservação do ambiente construído. Assim, o levantamento, sistematização, registo e divulgação do conhecimento técnico tradicional é também fundamental para o campo da conservação e restauro dos materiais históricos. Todavia, muito deste conhecimento técnico ainda está por revelar de forma sistemática e científica, bem como no domínio da ciência artesã é sabido que a mesma está, em vários sítios do País, em desaparecimento. Ciente de que o levantamento, registo, sistematização e análise dessa informação são fulcrais para a conservação do património, é consequente o facto de que a era digital em que nos encontramos, fornece-nos novas oportunidades para valorizar este saber. Neste sentido, as plataformas digitais se constituem como uma potencial ferramenta de incremento deste processo de coleta, registo, armazenamento e divulgação de informação. Mas, considerando o crescente reconhecimento da importância do saber-técnico tradicional para a salvaguarda do património, alguns desafios se colocam no âmbito da coleta, registo, arquivo e divulgação deste conhecimento. Por exemplo, a obtenção do conhecimento técnico tradicional é o resultado de uma experiência ao longo do tempo e por pessoas específicas, todavia, como encontrar um equilíbrio entre o arquivo e a divulgação deste conhecimento e o respeito pelo direito autoral sobre este mesmo conhecimento, entretanto, garante de sobrevivência de muitos artesãos? Como respeitar a intrínseca capacidade de mudança e adaptação da tradição com o importante e fundamental ato de coletar, registar e divulgar esta informação para aprimorar o campo da conservação e restauro do património cultural? Por outro lado, sendo as bases de dados digitais ferramentas de divulgação global do conhecimento associado ao património cultural imaterial, nomeadamente no que concerne ao saber-técnico tradicional, coloca-se o desafio sobre como respeitar as particularidades locais e regionais (por exemplo: as especificidades linguísticas). Porquanto, tendo presente o projeto DB-HERITAGE, visa-se discutir alguns dos avanços e desafios que se colocam no âmbito do registo e divulgação da informação relacionada com os saberes e fazeres técnicos tradicionais.


DB-HERITAGE: Ferramenta para o registo sistematizado dos dados relativos à história, propriedades e desempenho dos materiais
António Santos Silva – Químico, LNEC

Resumo
O projeto DB-HERITAGE (Base de dados de materiais de construção com interesse histórico e patrimonial, PTDC/EPH-PAT/4684/2014, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia) tem como principal objetivo a criação de meios para o arquivo de informação sobre materiais de construção com valor histórico e patrimonial, integrando um espaço para o repositório de amostras físicas e a disponibilização de uma ferramenta para a recolha e a divulgação de dados sobre a história, propriedades e desempenho dos materiais.
Pretende-se, assim, também promover a partilha, por diferentes atores e pelo público em geral, de informação relevante sobre os materiais que compõem o património histórico e arquitetónico que depois de agrupada e analisada sirva de base à elaboração de recomendações para a sua preservação.
A principal ferramenta do DB-HERITAGE consiste numa Base de Dados que permite a inserção de dados sobre um determinado monumento ou sítio, nomeadamente sobre o tipo de intervenção nele realizada (ex: inspeção, conservação, reparação), pormenorizando os locais objeto dessa intervenção, os materiais estudados e os resultados dos ensaios efetuados. Permite ainda agrupar os materiais por tipo, função, propriedades, aplicação e cronologia de intervenções, bem como condições de exposição, integrando todos os fatores relevantes para a análise do seu desempenho e do estado de conservação. Outras potencialidades que ainda inclui são a disponibilização de registos documentais sobre materiais e as técnicas de aplicação/conservação, isto é informação imaterial associada aos saberes técnicos-tradicionais, bem como sobre registos bibliográficos sobre os casos de estudo ou sobre os vários eventos do mesmo caso de estudo.
Nesta comunicação apresentam-se alguns dos meios criados pelo projeto DB-HERITAGE e, a título ilustrativo, exemplos de dados atualmente disponíveis na base de dados demonstrando o seu potencial na partilha e divulgação de informação relativa a materiais de construção com interesse histórico e patrimonial.


NOTAS BIOGRÁFICAS

antónio miranda

António Miranda


 

Licenciado em História pela Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras e Especialização em Ciências Documentais pela mesma Faculdade. Em 1991 iniciou a sua atividade como historiador na Câmara Municipal de Lisboa, tendo desenvolvido trabalho de investigação em bairros históricos (Madragoa, Bairro Alto e Bica). Coordenador e formador de cursos nas áreas da Reabilitação Urbana, História da Arquitetura, Olisipografia, História da Azulejaria, entre outros, especialmente dirigidos a funcionários municipais. De maio de 2013 a janeiro de 2015 foi Diretor interino do Museu da Cidade. Entre 2015 e 2016 assumiu a coordenação do Museu de Lisboa-Palácio Pimenta. Integrou, em maio de 2017, o grupo de trabalho do Projeto Europeu R.O.C.K. Convidado a integrar, como historiador da Câmara Municipal de Lisboa destacado, a Associação da Calçada Portuguesa, para onde transitou em maio de 2019. Comissariou várias exposições de temática olisiponense e é autor de vários artigos e comunicações dentro da área do património, olisipografia e reabilitação urbana.

Ana Velosa

Ana Velosa


 

Professora Associada com Agregação no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro. Licenciada em Engenharia Civil (FEUP), Mestre em Planeamento do Ambiente Urbano (FAUP). Doutorou-se em Engenharia Civil na Universidade de Aveiro em 2006. Tem coordenado e participado em diversos projetos de investigação, tendo publicado um número significativo de artigos em revistas e congressos internacionais e nacionais. Participa na RILEM e realizou um ano sabático no Norwegian Institute for Cultural Heritage Research. Foi Vice-Diretora do Departamento de Engenharia Civil da UA, Diretora do Mestrado Integrado em Engenharia Civil e Diretora da Licenciatura em Reabilitação do Património. É atualmente Pró-Reitora da Universidade de Aveiro com o pelouro do Campus e Sustentabilidade, Vice-Presidente do Centro da Terra e membro da direção da APRUPP.

António Santos Silva

António Santos Silva


 

Licenciado em Química Tecnológica pela FCUL e Doutorado em Engenharia Civil pela Universidade do Minho. É desde 1992 Investigador Auxiliar no Departamento de Materiais do LNEC. A sua principal área de atividade técnica e científica é a caracterização e durabilidade de materiais de construção, incluindo materiais com interesse histórico e o desenvolvimento de materiais compatíveis para a conservação do património histórico. Tem mais de 200 trabalhos publicados, incluindo cerca de 50 artigos em revistas indexadas internacionais na área da caracterização/durabilidade de materiais com interesse histórico. Coordenou e participou em vários projetos nacionais e internacionais relacionados com a degradação e conservação de materiais, e é presentemente o Investigador Responsável do Projeto DB-HERITAGE - Base de dados de materiais de construção com interesse histórico e patrimonial.

Carlos Gregório

Carlos Gregório


 

Técnico Superior, Museu da Pedra do Município de Cantanhede.

Dória Costa

Dória Costa


 

Licenciada em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Doutorada em Geologia (Petrologia e Geoquímica) pela Universidade de Oviedo. Investigadora Auxiliar no Departamento de Materiais do LNEC desde 2007. Tem dedicado à sua atividade científica e técnica à conservação da pedra, incluindo a caracterização deste tipo de materiais aplicados no património arquitetónico, o estudo dos processos de alteração e meios para a sua preservação. Tem integrado grupos de investigação pluridisciplinar e participado em projetos internacionais e nacionais relacionados a sua área de atividade embora abarcando objectivos diversos desde o desenvolvimento de equipamento para caracterização física dos materiais in situ, estudo de durabilidade de materiais pétreos europeus ou estudo de métodos de avaliação de soluções para a estabilização de superfícies alteradas.

Isabel Rute Fontinha

Isabel Rute Fontinha


 

Licenciada em Engenharia Química pelo IST e Doutorada em Ciências e Engenharia dos Materiais pela Universidade de Aveiro. É Investigadora Auxiliar no Departamento de Materiais do LNEC. A sua principal área de atividade técnica e científica é o estudo da durabilidade e do desempenho dos materiais metálicos à corrosão e a sua prevenção, nomeadamente dos aplicados em componentes da construção e em elementos arquitetónicos. Tendo publicado vários artigos nesta área e emitido pareceres. No âmbito do património cultural tem colaborado em projetos nacionais e europeus direcionados para o estudo da degradação e conservação das ligas de cobre. No âmbito do Projeto DB-HERITAGE é a Investigadora responsável pelo grupo de trabalho dos materiais metálicos.

Maria João Correia

Maria João Correia


 

Licenciada e Doutorada em Química pela Universidade de Lisboa. Investigadora Auxiliar no Departamento de Materiais do LNEC. As suas principais áreas de atividade científica e técnica são a avaliação de desempenho, a caracterização e a análise de falha dos materiais metálicos, bem como o estudo e prevenção dos mecanismos de deterioração. Sobre estes temas tem diversos relatórios técnicos e artigos publicados. Para além do Projeto DB-HERITAGE, tem participado em vários projetos nacionais e europeus focados na durabilidade e no desenvolvimento de novos materiais ou de novas ferramentas para recolha de dados e apoio à decisão da gestão da conservação do património construído.

Maria Rosário Veiga

Maria do Rosário Veiga


 

Licenciada em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico desde 1981 e doutorada em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto desde 1997. É Investigadora Principal com Habilitação no Departamento de Edifícios do LNEC e Chefe do Núcleo de Revestimentos e Isolamentos. No LNEC, coordena e participa em projetos de investigação, nacionais e internacionais – destacando-se atualmente os projetos FCT DB-HERITAGE – Base de dados de materiais de construção com interesse histórico e patrimonial, WGB-Shield – Proteção de fachadas de edifícios na revitalização das cidades e CemRestore - Argamassas para a conservação de edifícios do início do século XX - Compatibilidade e Sustentabilidade. Dedica-se também a estudos de investigação por contrato do LNEC para empresas e entidades externas. A sua área de investigação incide sobre revestimentos de paredes, tecnologia, materiais e exigências de desempenho e desenvolve estudos, nomeadamente, sobre revestimentos de edifícios históricos e soluções de conservação. Tem sido membro de Comissões RILEM e de grupos europeus de preparação de Guias para Aprovação Técnica Europeia. Tem orientado diversas Teses de Doutoramento e de Mestrado e dado aulas por convite em cursos de pós-graduação. É autora de numerosas comunicações e artigos publicados em Atas de Congressos e em revistas científicas, incluindo cerca de oitenta artigos em revistas científicas internacionais indexadas.
Mais informações:

Marluci Menezes

Marluci Menezes


 

Geógrafa, Doutora em Antropologia, Investigadora no LNEC desde 1991. Presentemente privilegia o estudo das questões socioculturais associadas ao uso e conservação de recursos patrimoniais, às memórias sociotécnicas relacionadas com materiais e edifícios históricos, às dinâmicas de adaptação aos processos de transformação urbana, e à relação entre património material, imaterial e digital. Participou vários projetos nacionais e internacionais, possuindo vários trabalhos publicados no âmbito da temática de estudo. Integra a equipa do FCT DB-HERITAGE.
Mais informações em:

Milene Gil

Milene Gil


 

Investigadora Sénior do Laboratório Hercules. Doutorada em Conservação e Restauro pela FCT/UNL em Teoria, História e Técnica da Produção Artística. De 2010 a 2016 foi Investigadora de Pós-Doutoramento em Ciências da Conservação aplicadas ao estudo técnico, material e de diagnóstico de pinturas murais no Laboratório Hercules da Universidade de Évora. Iniciou atividade como Conservadora-Restauradora de pintura mural em 1995 e, desde então, tem desenvolvido competências e realizado trabalhos no estrangeiro e em território nacional em alguns dos sítios/monumentos mais emblemáticos do património cultural. É autora de artigos sobre a temática e dinamizadora de várias ações de divulgação da pintura mural portuguesa junto da academia e público em geral.

Paulina Faria

Paulina Faria


 

Doutorada em Eng. Civil – Reabilitação do Património Construído pela Universidade NOVA de Lisboa (NOVA). Foi investigadora do LNEC, docente do IST e do Instituto Politécnico de Setúbal. É Professora Associada da Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA. Investiga na área dos materiais, tecnologias e patologia da construção, incluindo materiais e tecnologias de baixa energia incorporada, com é o caso das fibras naturais, da cal e da terra, muito utilizadas em construções antigas. Participa em diversas associações nacionais e internacionais. Orientou mais de 100 estudantes em dissertações e teses e tem mais de 200 trabalhos publicados, incluindo artigos em revistas indexadas internacionais. Participou em vários projetos nacionais e internacionais relacionados com a conservação de construções, a otimização de materiais para reparação e a capacitação profissional. É presentemente a Investigadora Responsável pela área da construção com terra do Projeto DB-HERITAGE - Base de dados de materiais de construção com interesse histórico e patrimonial.

Sílvia Pereira

Sílvia Pereira


 

Doutora em Química, a fazer investigação no LNEC e Laboratório HERCULES - UE, onde desde 2010 estuda os fenómenos de degradação do azulejo, a sua caracterização físico-química e mineralógica e os seus métodos de conservação-restauro. Foi coordenadora do projeto FCT CerAzul: Avaliação e desenvolvimento de materiais e técnicas para o restauro de azulejos históricos. Presentemente estuda as tecnologias de produção e matérias primas utilizadas na elaboração do azulejo, a influência destas nas propriedades de interface vidrado-cerâmica, a sua relação com os fenómenos de degradação e métodos inovadores de conservação e restauro. Integra a equipa do Projeto FCT-AZuRe.

Teresa Sampaio

Teresa Sampaio


 

Licenciada em Antropologia pelo ISCTE, onde também concluiu o Mestrado com a tese «A apropriação do apelativo Caramelo na construção identitária do Pinhal Novo». Concluiu a Pós-Graduação em Património cultural Imaterial na Universidade Lusófona. Trabalha no Museu Municipal de Palmela, promovendo e colaborando em diversos projetos de pesquisa na área do Património Cultural. Como projetos recentes, destaca a exposição «Paisagem sonora: a Gaita de Fole», patente no Museu da Música Mecânica e as Candidaturas de Palmela à Rede de Cidades Criativas da Música e da Arrábida a Reserva da Biosfera (ambas UNESCO).

Tiago Ilharco

Tiago Ilharco


 

Licenciado em Engenharia Civil e Mestre em Reabilitação do Património Edificado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), tendo frequentado o “13th International Course on Wood Conservation Technology”, organizado pelo ICCROM na Noruega. Sócio-fundador e membro da direção da APRUPP - Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património, trabalha, desde 2005, na área da reabilitação do património, sendo atualmente sócio-gerente do NCREP. Neste período, participou em diversos projetos que envolvem a inspeção, o diagnóstico, a análise estrutural e o dimensionamento de soluções de reabilitação e reforço de edifícios antigos. Como resultado do trabalho desenvolvido tem diversas publicações na área da inspeção e reforço de estruturas antigas de madeira, tendo participações como docente convidado e como co-orientador e arguente de teses de mestrado em diferentes universidades.